Ontem estava estudando e me veio à mente uma ideia de post pro instagram, que acabei não conseguindo postar. Daí hoje recebi um email muito carinhoso de uma cliente, que falava um pouco exatamente sobre o que eu pensei em escrever sobre ontem. “Que coisa!?”, pensei.
Quantas vezes você foi num médico, ou qualquer outro profissional de saúde e sentiu-se como se estivesse falando com a porta, pois ele mal olhou na sua cara? Ou então, parecia que você estava numa lâmina, sendo olhada de longe, pelo microscópio que só enxergava suas células, mas não a expressão dos seus olhos? Em que lhe foi receitado melatonina para a insônia, ômega 3 pro cérebro, serotonina pra tristeza, sem nem saber se era deficiência de compostos químicos ou de coração e alma?
Em que você foi apenas mais um corpo, um composto de células, sendo examinado bioquimicamente, e não uma pessoa, integralmente?
Mas as suplementações não são importantes? Muito! Quando realmente há uma deficiência nutricional, um estado grave, uma doença avançada, devemos lançar mão de tudo que a ciência moderna tem para nos oferecer. A questão aqui não é essa. O que não podemos nunca é esquecer que cuidamos de pessoas, não apenas de corpos e doenças. Pessoas que tem históricos, sentimentos, emoções, rotinas e ideias diferentes.
Em que momento deixamos de ser essas pessoas, para sermos órgãos e sintomas?
Quando a gente fala de atendimento holístico, parece muito místico, como se fôssemos acender um incenso e passar na pessoa antes da consulta. Quando a gente usa integrativo, soa muito diferentão, talvez até invasivo, pra quem não entende a razão de tudo. “Que tanto de pergunta é essa que essa moça quer saber?”
Mas pra conseguir mudar hábitos, temos que entendê-los. Pra mudar um padrão de comportamento, temos que entendê-lo. Pra perder peso, se sentir mais alegre e disposto, ou dormir melhor, temos que saber que caminho aquela pessoa percorreu pra chegar ali, naquele ponto, sentada na sua frente (ou do outro lado da tela, em caso de pandemia), te pedindo ajuda. E até temos que tentar entender, se aquela pessoa está realmente disposta ou apta a receber a ajuda. Muitas vezes, um comprimido (ou até 3) não vai adiantar. Talvez um psicólogo. Outras vezes, um comprimido não é realmente necessário. Talvez uma rotina diferente.
O ser humano é um organismo complexo. Físico e químico sim. Mas também emocional. E tudo está interligado.
Olhar só pro estômago não vai curar a gastrite. Talvez um ou outro sintoma, mas não a causa. Olhar só pro cortisol, não vai acabar com as suas crises de estresse. Suplementar serotonina, não vai te fazer se sentir mais feliz, se você sequer se sente inteiro.
O olhar integrativo não faz ou promete milagre. Mas dá atenção e autonomia. Você não é uma doença, você está passando por ela. Será que, à partir de agora, toda a sua vida está nas mãos de um comprimido, em jejum, 2 x ao dia? O que você pode fazer? Tentar conversar com alguém? Mudar um hábito alimentar? Os horários de acordar e dormir? A forma como você lida com os problemas (inevitáveis) da vida?
Sinto que as pessoas estão despertando para essas questões, e buscando profissionais que procurem compreender que por trás de um órgão doente, há todo um sistema exausto de tanto gritar e não ser ouvido, e uma pessoa precisando aprender a ouvir os gritos.
Namastê