Sendo nutricionista, é óbvio que eu não prescrevo exercícios para as minhas pacientes.
No entanto, sendo uma nutricionista que trabalha de forma integrativa, é mais óbvio ainda que eu incentivo todas elas a serem fisicamente ativas.
Ou seja, não é porque eu não posso prescrever exercício, que não vou indicá-los.
Exercício vai muito além de estética! É imprescindível à vida!
Não é à toa que temos tantas articulações. Fomos feitos para nos mover.
Porém, ao longo da evolução humana, infelizmente, nos tornamos cada vez mais sedentários.
Costumo dizer que a academia foi uma invenção necessária da vida moderna. Se antes nos movíamos com frequência, hoje passamos quase o dia todo sentados. Não fosse a academia, algumas pessoas só se levantariam para ir ao banheiro.
E trago mais verdades difíceis de engolir: talvez você não esperasse por essa, mas ficar 10 horas sentado e uma hora na academia, ainda te faz uma pessoa sedentária.
Mas, o que isso tudo tem a ver com o cérebro?
O exercício é o fator de estilo de vida que tem mais evidência científica quanto aos benefícios para o cérebro, incluindo prevenção de demências, depressão e AVC (acidente vascular cerebral). As pessoas que se movimentam mais tendem a ser mais longevas e saudáveis.
O cérebro e o tecido muscular se comunicam através de muitas vias, como nossa circulação, o sistema imune e também nosso querido intestino.
E como esses benefícios acontecem, afinal?
1 – Neuroplasticidade:
Neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de gerar novas conexões neurais. É um mecanismo fundamental para processos como a consolidação de memória, o aprendizado e saúde cognitiva no geral.
Estudos indicam que o exercício é capaz de promover a neuroplasticidade ao aumentar o fluxo sanguíneo para o cérebro, que, por sua vez, estimula a liberação de moléculas marcadoras de neuroplasticidade, como o BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), que falaremos mais adiante.
2 – Neuroinflamação:
A prática de atividade física é capaz de modular o sistema imune, reduzindo a inflamação como um todo. E isso inclui a neuroinflamação, processo que está ligado ao desenvolvimento de inúmeras doenças como Alzheimer, TAG (transtorno de ansiedade generalizada), depressão e Parkinson.
Isso se dá ao fato de que, durante o exercício, o músculo libera citocinas antiinflamatórias, que podem auxiliar nesse processo de redução da inflamação crônica sistêmica. Bom lembrar que, apesar de estarmos falando de saúde cerebral, a inflamação crônica também está envolvida no desenvolvimento de inúmeras outras doenças, como hipertensão, diabetes e obesidade. E, todas estas citadas, são fatores de risco para a Doença de Alzheimer.
Como eu sempre falo, está tudo interligado.
3 – Irisina:
Irisina é uma molécula que ficou famosa nos últimos anos. Tal fama não aconteceu à toa. Essa miocina vem sendo amplamente estudada por seus benefícios ao cérebro.
A irisina é liberada durante a atividade física, principalmente em exercícios de resistência, como a musculação. Dentro dos seus benefícios, ela vem sendo estudada pelo seu efeito positivo na regulação do estresse oxidativo (menos inflamação), na resistência insulínica e a neurogênese (capacidade de criar novos neurônios).
4 – BDNF:
BDNF, ou fator neurotrófico derivado do cérebro (em inglês: brain derived neurotrophic fator), é uma molécula que, como a irisina, também apresenta maior concentração em pessoas fisicamente ativas.
BDNF baixo está associado à uma redução de uma área do cérebro chamada hipocampo, envolvida nos processos de memória, aprendizagem e processamento de emoções.
Sua expressão aumenta com exercícios resistidos ou aeróbicos, porém, alguns estudos sugerem que o exercício aeróbico, como correr e pedalar, por exemplo, tem uma ação maior na liberação do BDNF.
E como eu consigo esses resultados no meu cérebro?
Bom, caso não tenha ficado claro, fazer exercício é imprescindível para a saúde do cérebro (aliás, a saúde como um todo, né?).
Se você é daquelas pessoas que está sempre postergando começar a se exercitar, saiba que suas escolhas impactam diretamente em como você vai envelhecer.
Não sei você, mas eu tenho vontade de envelhecer bem, com disposição física e mental. E, para isso, faço escolhas no meu dia a dia que podem me ajudar a chegar nesse objetivo.
Deixo dois pontos para você pensar:
1 – A vida é corrida, e está passando:
Sim, existem fases na vida em que o tempo parece que fica mais escasso, como quando um bebê nasce numa família. No entanto, na grande maioria das vezes, o que falta é um melhor gerenciamento do tempo.
Canso de ver pessoas gastando horas do seu dia a dia com redes sociais e séries, dizendo que não tem tempo para se exercitar ou cozinhar, por exemplo.
Sim, todo mundo tem direito de descasar, mas, pensa comigo, será que esse tempo que você gasta rolando feed, te descansa mesmo?Bom, o que eu posso te confirmar é que, pela neurociência, não.
No fim, seu cérebro está ainda mais exausto com o excesso de informações. Informações essas que você sequer usa, na grande maioria das vezes. O que você fica mesmo é mais ansiosa e estressada (mesmo que inconscientemente).
Sabe o que pode te ajudar a relaxar? Se movimentar mais!
2 – Ninguém pode fazer isso por você.
Parece óbvio, mas as pessoas tendem a transferir a responsabilidade de sua saúde para os outros. Bem, a não ser que você seja uma criança, ninguém é responsável por você. Mesmo que você tenha um personal, quem tem que calçar o tênis e fazer, é você.
Você sabe o que precisa ser feito. A questão é, por que não faz?
Podem existir muitas respostas para a sua pergunta, e só você será capaz de respondê-la. Já cobrimos o quesito agenda, então, não responda “tempo” de maneira automática.
Existe uma outra razão pela qual você não consegue se comprometer com você mesma, e peço que você pare e reflita sobre isso. Faça isso por você. Seu eu de 80, 90 anos, vai agradecer.
Tem uma frase (atribuída ao autor Deane Juhan) que diz assim:
“Movement is the unifying bond between the mind and the body, and sensations are the substance of that bond.”
Traduzindo: “Movimento é o elo que liga a mente e o corpo, e as sensações são a substância desse elo.”
Entenda substância como resultado. Não evoluímos na inércia. Ela deteriora nosso corpo e nosso espírito.
Você não precisa de muito. Só começa.
Alguns artigos:
doi.org/10.3389/fncel.2019.00363
doi: 10.1155/2017/4716197
doi: 10.1155/2020/8856621
doi.org/10.3389/fnut.2022.947033
doi.org/10.3390/ijms22126479
doi: 10.1016/j.heliyon.2022.e12352