Demência, eu diria,  é um “termo guarda chuva”, definido como Distúrbio neurocognitivo maior, que engloba algumas doenças que apresentam uma deterioração grave, lenta e progressiva, das capacidades mentais, afetando áreas como a memória,  o raciocínio e a capacidade de aprender.
No Brasil, estima-se que o número de pessoas com algum tipo de demência já ultrapasse os 2,7 milhões. Sendo que, muito provavelmente, esse número é bem maior, considerando que muitos casos não são diagnosticados.

Alguns tipos de demência mais comuns, são:
– Doença de Alzheimer (a mais comum delas, contribuindo com  cerca de 60% dos casos no Brasil)
– Demência vascular
– Demência de corpos de Levy
– Demência Frontotemporal (um caso conhecido é o do ator Bruce Willis)

Aqui, vamos nos concentrar na Doença de Alzheimer e nas mulheres.

Primeiro, vamos entender um pouco sobre o que é a Doença de Alzheimer.

A Doença de Alzheimer (que vamos chamar apenas de Alzheimer, daqui em diante), é caracterizada por uma perda progressiva das funções mentais, onde há degeneração do tecido do cérebro, que inclui a perda de células nervosas (morte dos neurônios), o acúmulo de placas de beta- amilóides (fragmentos de proteína que causam inflamação e prejudicam a atividade dos neurônios) e o desenvolvimento de tranças neurofibrilares (alterações dentro das células neuronais, que dificultam a comunicação entre elas).

Seus primeiros sinais e sintomas são:
– esquecimento de dados que alteram o dia a dia. Ex: esquecer datas e compromissos.
– dificuldade de planejar e resolver problemas. Ex: dificuldade de seguir uma receita ou de organizar as contas a serem pagas.
– dificuldade em completar tarefas familiares. Ex: se perder em um caminho corriqueiro ou lembrar as regras do seu jogo favorito.
– confusão sobre o local e/ou dia. Ex: esquecer brevemente onde está ou como chegou lá.
– fazer a mesma pergunta várias vezes e/ou esquecer coisas que acabou de aprender.
– perder ou esquecer onde colocou as coisas com mais frequência.
– redução na capacidade de julgamento ou tomada de decisão.
– mudanças no humor e/ou personalidade.

Importante lembrar que cada indivíduo é único, e deve ser comparado a si mesmo, pois só podemos avaliar mudanças reais, quando olhamos como tal pessoa fazia/reagia antes, e como está agora.
Além disso, o diagnóstico deve ser feito com respaldo médico, e não apenas por uma lista de alguns sinais e sintomas. A tendência é que os sintomas se agravem e outros surjam, no decorrer da doença. Ter dificuldade para se expressar, ler, escrever, não lembrar fatos da sua própria história ou dificuldade para reconhecer familiares, já são sintomas de uma doença mais avançada. Por essa razão, é indicado buscar ajuda profissional quando sentir que você ou algum parente está começando a apresentar sintomas que podem ser de demência.

Também acho importante dizer que, embora um certo declínio cognitivo possa ser esperado (ex: você não fará as atividades no mesmo tempo que fazia aos 20 anos), nenhuma demência não deve ser vista como um destino certo do envelhecimento. Existem, como veremos abaixo, fatores de risco modificáveis, que podem reduzir a capacidade de desenvolver Alzheimer.

Os 14 fatores de risco modificáveis.

Esse ano (2024), a Comissão de prevenção e intervenção em demência do Lancet, incluiu 2 novos fatores de risco modificáveis na lista da prevenção de demências (sendo Alzheimer a principal), que são LDL alto e visão.

A lista completa dos 14 fatores de risco modificáveis é a seguinte:
– LDL alto
– perda auditiva
– baixo nível de escolaridade
– isolamento social
– depressão
– traumatismo craniano
– poluição do ar
– sedentarismo
– diabetes
– tabagismo
– hipertensão
– obesidade
– uso excessivo de álcool
– perda da visão
Juntos, esses fatores poderiam prevenir cerca de 45% dos casos de demência.

Inclusive, recentemente, saiu um estudo dizendo que, na América Latina, essa redução ultrapassa os 50%!

Mas, onde as mulheres entram nessa história?

O Alzheimer, como mencionado acima, é a principal causa de demência no mundo, afetando mais de 55 milhões de pessoas. E estima-se que esse número chegue a 139 milhões, até 2050!
Acontece que, 2/3 dos casos de Alzheimer são em mulheres.

Além disso, existem fatores de risco não modificáveis. São eles:
– idade maior que 65 anos
– ser do sexo feminino
– menopausa (nós novamente)
– genética

Dito isso, gostaria de alertar para o fato de que, na maioria dos lares, o paciente com Alzheimer tem uma cuidadora, não um cuidador, Isto é, as mulheres que ficam com o estresse e o isolamento social (fator de risco) provocados pelo exaustivo cuidado dos familiares com Alzheimer. E isso não é uma opinião, é um fato. Nos EUA, por exemplo, estima-se que 60 a 70% dos cuidados (não pagos, diga-se de passagem) com pacientes com Alzheimer seja feito por mulheres. Muitas ainda são idosas.

Um adendo sobre genética.

Costumo dizer que genética não é sentença. E, conforme a ciência avança, mostra que não é mesmo.

Não vou entrar num papo científico, porque precisaria de um post inteiro só para isso. Mas é preciso deixar claro que, menos de 5% dos casos de Alzheimer tem um “peso” genético.

Então, o que eu quero que você tire disso tudo?

Não, você não pode mudar o fato de que está envelhecendo, de ser mulher ou de ter que passar pela menopausa. No entanto, existe muito o que você pode fazer! E, quanto antes você começar a cuidar da sua saúde, melhor!

O Alzheimer começa a se desenvolver décadas antes do diagnóstico, mas nosso corpo é capaz e coisas incríveis! Então, se você está com, sei lá, 40 anos, e acha que não tem mais tempo de mudar, saiba que está redondamente enganada!

Não pense em mudar ou melhorar seus hábitos de vida “apenas” para te ajudar a prevenir o desenvolvimento de uma doença daqui a 30 anos. Mas em como tais mudanças podem te ajudar hoje, melhorando seu sono, sua disposição física e mental, seu humor.

O envelhecimento é inevitável (e um privilégio!). O Alzheimer, não.

 

Referências:
MSD Manuals
Alzheimer’s Association
The Lancet
Alzheimer Society
Ministério da Saúde
OPAS
National Institute on Aging